sábado, 14 de maio de 2011

A Família Real no Brasil (8º Ano /2º Bimestre )

                                           A Família Real de mudança para o Brasil
                                            D. João e a corte abandonam Portugal


Desenho-de-caravelas
De um lado Napoleão e os exércitos franceses. Do outro, a Inglaterra e sua poderosa esquadra naval. Ameaças de invasão e bombardeio marítimo às principais cidades portuguesas. E nada do que estava sendo vivido era blefe. As tropas francesas já haviam cumprido suas prerrogativas e invadido os reinos que não aderiram ao Bloqueio Continental proposto pelo imperador Bonaparte, inclusive a Dinamarca, que tentara discretamente manter o comércio e as relações diplomáticas com a Inglaterra e que, por conta disso, tivera que se submeter à força, ao jugo francês.
Há quem pense que a decisão tomada pelo regente D. João, segundo na linha de sucessão de sua mãe, D. Maria I, rainha de Portugal, foi decisão tomada a partir somente daquele contexto, em que os lusos eram pressionados por franceses e ingleses. É importante ressaltar, no entanto, que a possibilidade de um monarca português se estabelecer no Brasil já era apreciada desde o século XVI e, se prolongou como proposta e possibilidade também durante os séculos posteriores, até sua concretização com a vinda da Corte Portuguesa em 1808.
Os motivos relativos a essa anterior discussão quanto à vinda e o possível estabelecimento do monarca luso em sua maior colônia estão ligados à própria importância do Brasil para o Império Português. A colônia de além-mar, acrescentada aos domínios portugueses em 1500, com o estabelecimento de seus ciclos econômicos pós-feitorias e exploração do pau-brasil, a partir do ciclo do açúcar tornou-se a principal e majoritária força motriz da economia metropolitana.
As ameaças ao domínio português por parte de outras nações como a França, a Holanda ou a Inglaterra sempre causaram real temor entre os lusitanos de que suas forças na metrópole não fossem suficientes e rápidas para conter avanços em território brasileiro. Este receio aumentou com as invasões holandesas do século XVII e com a constatação de que em terras brasileiras existiam riquezas notáveis, como o ouro e os diamantes, que certamente atrairiam outros forasteiros invasores para a colônia.
O século XVIII com a crescente influência da burguesia, as ideias do Iluminismo, a derrocada da nobreza francesa, a revolução americana e o desenvolvimento industrial da Inglaterra também influenciaram e motivaram os portugueses a pensar na possibilidade de migrar para o Brasil, já que tanto a base de sustentação do Velho Regime (que dava poderes absolutos para as monarquias europeias) quanto à própria estabilidade do colonialismo estavam em xeque e, estas crescentes ameaças se faziam sentir cada dia mais próximas.
Junte-se a isto a real ameaça de invasão das tropas napoleônicas nos primeiros anos do século XIX e temos o cenário “ideal” para o deslocamento da Corte Portuguesa para terras brasileiras. Não que este traslado tenha sido feito de forma apropriada, já que D. João postergou ao máximo a alternativa brasileira e, literalmente, “cozinhou o galo” em água morna para evitar qualquer movimento militar de tropas francesas ou inglesas.
Desenho-da-familia-real-portuguesa-chegando-ao-Brasil
Sua estratégia durante estas negociações foi, simplesmente, mostrar-se aliado de ambos e inimigo dos dois lados, com uma face revelando-se simpática aos interesses franceses quanto ao Bloqueio Continental e o isolamento dos ingleses quanto a suas possibilidades comerciais com o continente quanto, por outro lado, demonstrando aliar-se aos britânicos para a manutenção de históricos laços diplomáticos e comerciais.
É lógico que isso não podia durar para sempre e que, para tal, D. João contava com a ineficácia do sistema de comunicações e transportes da época para adiar e prorrogar os prazos que tinha para tomar uma decisão efetiva (o envio de correspondência entre as capitais de Portugal e da França, por exemplo, levava de 2 a 3 semanas).
Junte-se a tudo isso o fato de D. João não ter sido preparado para o exercício das funções de monarca, que caberiam a sua mãe, D. Maria I, diagnosticada pelos médicos de então, como incapaz de exercer tais funções em função de estar em claro estado de demência. Pela tradição vigente, na ausência do Rei ou na incapacidade da rainha, caberia o exercício do poder político a um regente, no caso, o primogênito na linhagem familiar real. Em Portugal, a coroa iria para D. José, o irmão mais velho de D. João, que havia precocemente falecido alguns anos antes, em 1788, de varíola.
Um regente indeciso, uma rainha louca, o reino ameaçado pelas duas maiores potências da época, vivendo uma época em que seus domínios, outrora prósperos, se encontravam em franca decadência e dependiam muito de seus parceiros comerciais para praticamente tudo, tendo se especializado ao longo dos dois últimos séculos em apenas renegociar os produtos provenientes das colônias... Esta era a situação de Portugal no início do século XIX...
Enquanto isso, do outro lado das fronteiras portuguesas, as tropas napoleônicas já se preparando para a invasão das terras lusas em virtude da clara indefinição de D. João quanto às reais intenções e alianças que Portugal iria fazer. Ciente da aproximação de soldados franceses, e já tendo avançado nas tratativas com os ingleses (que na dúvida enviaram suas embarcações com duas propostas quanto a o que fazer em relação a Portugal: a primeira alternativa era escoltar a Corte Portuguesa para o Brasil e, a segunda, era bombardear Lisboa caso os portugueses se aliassem aos franceses), coube aos portugueses protagonizar uma rápida “mudança” de endereço, levando consigo um contingente aproximado de 15 mil pessoas e praticamente tudo o que havia de valioso no reino.
Na retirada, ou “fuga” conforme alguns cronistas e historiadores, alguns pertences de valor foram deixados para trás, como o precioso acervo da Biblioteca Real Portuguesa e, certamente, as condições da viagem não foram dignas dos importantes passageiros transportados naquelas caravelas.
Desenho-de-D-Joao-VI-no-Rio-de-Janeiro
A pressa também não permitiu a D. João e à Corte saber que as tropas francesas, lideradas pelo general Junot, eram na realidade um arremedo do temível exército napoleônico, contando com recrutas novatos e ainda não totalmente treinados para a guerra, mal equipados, que tiveram baixas na jornada da França para Portugal e que, certamente, com o auxílio dos ingleses, poderiam ter sido derrotados pelas guarnições lusas.
A retirada da Corte deixou os portugueses à própria sorte, em situação de real orfandade, ainda mais se levarmos em consideração que naquela época conceitos como democracia e práticas como eleições não estavam culturalmente estabelecidas, circulando ainda como conceitos e propostas entre as elites letradas. A vinda de D. João, Carlota Joaquina e demais membros da Corte também definiu a única situação histórica de visita e, certamente, de estabelecimento de uma família imperial em terras coloniais americanas...

                                                          Professora Maria Creusa
                                          (De Olho na História João Luís de Almeida Machado)

Nenhum comentário:

Postar um comentário