sábado, 14 de maio de 2011

A alimentação nos primórdios na Pré-História

                                                            De Herbívoros a Carnívoros
                                                A Alimentação nos Primórdios da Pré-História

Cena-de-Uma-Odisseia-no-espaco
A imagem acima faz parte da seqüência inicial do filme "2001, Uma
Odisséia no Espaço", do cineasta Stanley Kubrick.

As imagens iniciais do filme "2001, Uma Odisséia no Espaço", de Stanley Kubrick nos colocam diante de animais com os quais dificilmente nos identificaríamos. Se parecem muito mais com os gorilas atuais do que com os seres humanos. Provavelmente a intenção do cineasta fosse causar um certo desgosto, um desconforto e uma sensação de estranheza nos espectadores. Em determinados casos inclusive, gerar uma dúvida tão grande que levasse um grande número de pessoas a ignorar o fato de que aqueles animais pudessem ser verdadeiramente identificados como parentes do Homo Sapiens.
O que podemos observar, a princípio, é que esses hominídeos caminhavam apoiando-se sobre os quatro membros (braços e pernas), tinham o corpo coberto por uma pelugem considerável, possuíam um maxilar protuberante, tinham braços alongados e, aparentemente, eram herbívoros (se alimentavam de vegetais).
Se nos detivermos mais atentamente às imagens apresentadas e aos hábitos auferidos entre os hominídeos que desfilam pela tela, perceberemos que, pelo fato de se locomoverem apoiados nos membros dianteiros e traseiros, passavam a ter uma visão de mundo reduzida e limitada, concentrando sua atenção aos caminhos por onde circulavam e, especificamente, ao solo e ao que estava no chão ou próximo a ele.
A dieta de base herbívora passa então a ser entendida como uma repercussão das limitações impostas pela locomoção desses hominídeos; junte-se a isso o fato desses seres viverem num período onde os outros animais eram consideravelmente mais fortes e robustos que eles e, passamos a compreender a predileção de nossos antepassados, nos primórdios de sua existência pela alimentação herbívora.
Imagem-do-quadro-da-evolucao-humana
O quadro da evolução humana apresentado acima faz parte do acervo do
Smithsonian Museum of Natural History.

Há registros escritos por estudiosos (antropólogos, paleontólogos) que adicionam animais rasteiros (pequenos roedores), insetos e moluscos a dieta humana nessa fase inicial de nossa existência. Vale ressaltar, que não se tratavam, esses alimentos (roedores, insetos, moluscos), de recursos consumidos com regularidade, diferentemente das diversas espécies de raízes, folhas, gramíneas, frutas e leguminosas coletadas regularmente.
Há, no entanto, um momento específico do filme, onde surge um totem (na forma de uma pedra escura, totalmente lisa, projetando-se do solo em direção ao céu), metaforicamente utilizado para representar a transição dos hominídeos de seu estado animalesco para uma situação na qual podemos distinguir o uso de ferramentas (ossos, paus, pedras).
A modificação mais expressiva é a alteração na locomoção dos hominídeos, que deixam de ser quadrúpedes e se tornam bípedes, passando a andar apoiados apenas nas pernas. Essa alteração libera as mãos permitindo que elas possam manusear os elementos disponibilizados pela natureza com maior regularidade, apropriando-se de noções a respeito do mesmo (peso, tamanho, resistência), verificando utilizações possíveis, adaptando a suas necessidades e constituindo, dessa maneira, suas primeiras ferramentas.
A alteração na locomoção promove, também, uma alteração sensível quanto ao alcance da visão desses hominídeos. Os horizontes da humanidade se expandem consideravelmente. Os olhos dos homens, antes voltados para o restrito espaço do solo que os circundavam, desloca-se para áreas amplas, abertas, por onde trafegam outros seres, semelhantes ou diferenciados em relação a ele. Sua compreensão de mundo se amplia, lenta e gradualmente, em passos constantes e seguros.
Imagem-de-pessoas-se-alimentando
O processo evolutivo promoveu alterações significativas
no cotidiano dos hominídeos. Um exemplo típico refere-se
as alterações dos hábitos alimentares, com a superação de uma
dieta de base herbívora para uma outra, de base carnívora.

Essas alterações implicam novidades no cotidiano e nas relações entre os hominídeos e o mundo que os cerca. Os ciclos de fome não desaparecem por completo, o que obriga os homens pré-históricos a continuar procurando alimentos em todos os espaços pelos quais circula, inclusive no chão. Não há o abandono do rastreamento no solo, por raízes, animais rasteiros, insetos ou folhas e frutos. O que ocorre é um remanejamento de funções, sendo que o trabalho de coleta passa a ser atribuição das mulheres, cabendo aos homens a caça e a pesca.
É fundamental que possamos perceber que esses acontecimentos se desenvolveram ao longo de milhares de anos e que, cada nova alteração nos hábitos dos homens pré-históricos se consolidam apenas depois da repetição dessas práticas ao longo de algumas gerações. Igualmente importante torna-se a percepção de que os acontecimentos, conjuntamente, forjaram o surgimento de comunidades cada vez mais organizadas e desenvolvidas.
A carne, por exemplo, a princípio era consumida crua. Era natural que, com o passar do tempo, tendo o homem descoberto as alterações promovidas pelo fogo nas carnes (ficavam mais macias, apresentavam um sabor mais agradável, tornavam-se mais fáceis de serem rasgadas pela dentição durante a mastigação) e, tendo se apropriado das técnicas que permitiam a produção do fogo, se regularizassem ações de cozimento.
Mas os homens pré-históricos descobriram as propriedades do fogo sobre os alimentos (mais especificamente as carnes), antes de propriamente dominarem o fogo?
Sim, de acordo com pesquisas divulgadas nos mais recentes trabalhos de História da Alimentação, os hominídeos daquele período teriam descoberto essas reações promovidas pelo fogo em relação aos alimentos ao encontrarem carcaças de animais mortos durante incêndios nas florestas e terem se alimentado desses restos. Outra explicação relacionada ao fato apresenta os alimentos sendo cozidos em regiões que apresentavam águas quentes (fontes termais ou gêiseres).
Outras incorporações importantes que acompanharam a transição de uma alimentação herbívora para uma carnívora referem-se a revolução agrícola (que acabou com o nomadismo), a domesticação de animais, a produção e utilização de utensílios cerâmicos, de pedras lapidáveis ou mesmo de madeira para realizar o cozimento, o surgimento dos fornos para a produção de pães e assados e o surgimento de vilas, aldeias e cidades. Estávamos cruzando os limites entre a Pré-História e a História...
                                                Professora Maria Creusa

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